terça-feira, 2 de setembro de 2008

A China das Boas Mulheres - por Laura Gallindo


Uma coisa é ler As Boas Mulheres da China como ser humano, outra enquanto mulher. Inominável quando se é os dois. Os relatos transcritos pela coragem e sensibilidade da jornalista chinesa, Xiran, incomodam, assombram, desenterram de uma revolução não suas vitórias ou os seus belos trajes ideológicos, mas sim os pecados de homens que morreram sem conhecer as suas rosas. Estas foram as mulheres chinesas, que durante a Revolução Cultural ficaram à margem até dos males que os tempos de guerra trazem. Elas não alcançaram nem o sofrimento cabível ao corpo, pois este nunca as pertenceu. Foram mulheres sem brio, sem feminilidade, sem alegria. Diria até, sem pátria.
São as chinesas da década de 90, nossas contemporâneas, aquelas que ainda (sobre)vivem nesse mesmo mundo onde homens já foram à lua e cientistas usam partículas invisíveis a olho nu para fazer explodir cidades inteiras. Da lua fica o brilho e das invisíveis partículas a guerra, uma rotina para essas mulheres, que vivem do carinho de uma mosca, do medo de um marido ou do seu próprio corpo, do seu sexo, que lhes pode ser expropriado como suporte para o infame prazer dos ‘‘machos’’ imberbes de uma revolução forjada.
É impossível não comungar do sentimento desesperador que rasgou a alma dessas mulheres que chegaram a conhecer ‘‘dias dourados’’, quando a dor ainda não era anunciada e acreditava-se na paixão entre adolescentes. De Nanquim para o mundo, usando o rádio, Xiran viveu por uma missão que até Cartola duvidou: fazer as rosas falarem. E o mundo calar enquanto elas choram lágrimas tardiamente derramadas, mas que exalam um perfume que anuncia o fim de uma década nefasta.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Every time Chico says goodbye - Por Laura Gallindo


Chico Buarque não é o queridinho do Brasil por tantas gerações à toa. Ele é o sincretismo da vivacidade e das mazelas do povo transformadas em uma boemia gostosa de se ouvir. Seu olhar é de uma anilina clara que percorre a história do país cantando o seu cotidiano. O nosso Chico, várias vezes campeão de futebol de botão e, já aos oito, criador de marchinhas de Carnaval, foi o mesmo que se esgueirou pela mão de ferro do ditador Médici com a sua própria filha a tiracolo na lira de sua composição ‘‘Indisponível’’:

‘‘Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta’’

A mesma irreverência com que mestre Buarque disfarçado com nome de ''super-herói'', Jorge Maravilha, para burlar a censura, tratou a ditadura militar, ele usou para entender as crianças que ‘‘ensaiavam o rock para as matinês’’. Mas para Chico ''era fatal que o faz-de-conta terminasse assim'' e logo seu lirismo desvairava-se a perguntar ‘‘O que é que a vida vai fazer de mim? ’’ Essa e tantas outras perguntas ficaram no ar. Ele nunca entrava no tom piegas da lamentação respondida. Estava era ocupado puxando o enredo da Mangueira. Porque Chico é Brasil, cabreiro, poeta, múltiplo, mudo, único.

Felipe Haeckel, um amigo e fã de Chico Buarque, me suscitou esse texto quando falou que a música que Chico diz, em um documentário, ser a sua preferida: ‘‘Everytime We Say Googbye’’ de Cole Porter (http://www.youtube.com/watch?v=9GdwZL2Bx8c), não se compara às músicas dele próprio que também falam de despedida. Porque quando é o tom romântico que seu Chico traja, não há quem resista aos versos gentis de ''Futuros Amantes''...

‘‘Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar’’
Veja no vídeo ele contando como compos essa música.

É a compreensão que Chico faz do homem que o coloca como líder de uma geração que reluta em falar de amor. E, ainda nas palavras de Felipe Haeckel, a despedida para Chico se eterniza no reencontro cantado de ''ex-futuros amantes'', como em ‘‘Todo Sentimento’’:

‘‘Depois de te perder
te encontro com certeza
talvez num tempo da delicadeza
onde não diremos nada
nada aconteceu
apenas seguirei como encantado ao lado teu"

Quando se ouve Chico Buarque de Hollanda a vontade que se tem é de fazer samba e amor até mais tarde, a palavra cala e o caos da vida fica mole como um acorde de samba sem pressa, como a menina e o rapaz que se reconhecem em uma canção do tipo ''Samba e Amor''...

''Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã''
Nessa brincadeira de colocar trechos das músicas, só acabaria esse texto quando tantos outros fossem citados. Mas como isso é um blog e não um guia de Chico Buarque de Hollanda (não é má idéia. Já tenho até sócio, não é Felipe?) conterei meu entusiamo. Só não suportaria acabar sem citar minha música preferida, que incansavelmente escuto e perco a noção da hora, como bem sabe Chico, ‘‘Eu Te Amo’’:

‘‘Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir’’
''Eu Te Amo'' - Chico Buarque, Tom Jobim e Telma Costa

Pois é, meus caros, por essas e outras que every time chico says good bye... i die a little.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

TeVê - Por Gabriela Valente

Hoje resolvi dissertar sobre a TV. Iria render muito, se eu quisesse abordar o poder social que ela representa, lembrando que ela está presente em 98% dos lares brasileiros e que no mundo existe uma telinha para cada cinco habitantes. Mas estou aqui para falar brevemente sobre o próprio meio, depois que ouvi a frase do sábio McLuhan que disse o seguinte: “o meio é a mensagem”. O que ele quis dizer com isso?

Quem nunca se viu diante da TV completamente estático, fora do mundo? Acontece até de alguém falar com a gente e nós não nos apercebermos, e isso não acontece com nenhum outro meio (talvez com a internet). Quem nunca chegou em casa e ligou a TV só pra não se sentir só? Pois é, a Tv ao mesmo tempo em que nos faz companhia, ela nos hipnotiza, e como o Spielberg tratou em seu filme Poltergeist, a metáfora que a TV engolia a criança, nós de fato entramos de cabeça nesse meio.


Com isso, conclui-se que assistimos ao meio e não propriamente ao conteúdo. De acordo com o meio, a mensagem adquire sentidos diferentes, ainda que estejamos falando do mesmo assunto. Hoje, vive-se um grande “boom” de mídias: TV, rádio, jornal impresso, internet, cinema, etc. E mais, essas mídias todas agora entram em processo de convergência. E o que preocupa no que se refere à TV é que olhamos para ela muito de fora, escutamos distraidamente, deslizamos sobre as imagens, saltamos de canal e canal, e com isso não vemos o que passa na TV, mas na verdade o que fazemos é pura e simplesmente ver TV.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A volta dos que não foram - Por Gabriela Valente


Hoje eu descobri porque muita gente não se interessa pelo cinema nacional (meu caso por certo tempo). É que aqui no Brasil, os filmes se preocupam com a realidade social do país, e não apenas em produzir filmes para a exportação. E isso choca, porque estamos todos acostumados ao bombardeamento vindo de Hollywood, com aquela fórmula pronta que todo mundo conhece (apesar de o maior produtor de filmes do mundo ser a Índia, mas não vou voltar ao assunto do meu texto anterior). Inegável que os americanos saem na frente quando o quesito é chamar atenção com as milionárias megaproduções.


Participei de uma palestra com o cineasta e diretor Paulo Caldas, ano passado, que disse que 78% da programação dos cinemas do país se dedica a filmes estrangeiros, enquanto que na TV esse número é ainda mais absurdo: 96%. Ele ainda disse que dos 50 filmes brasileiros produzidos por ano, em média, apenas 30 são exibidos nos cinemas. No meu ponto de vista, muito desses filmes não são o protótipo de vídeos reproduzidos nos multiplex. Aqueles da Globo Filmes até que ganham espaço e repercutem (Os Normais, A Grande Família, Casseta e Planeta), mas aí estamos falando da Rede Globo. Merchandising nas novelas, revistas de todo o país cobrindo os mega lançamentos cheios de globais, etc. Fica realmente difícil que as produções independentes prevaleçam. Mas vemos que existe sim uma curiosidade das pessoas pelos filmes autorais. Não é à toa que o Cine PE lota todos os dias do evento.


Pensando agora por alto consigo dizer o nome de excelentes cineastas do país: Caca Diegues, José Padilha, Guel Arraes, João Moreira Salles, Jorge Furtado. Dentre todos esses, eu admiro muito o cinema de Padilha. Mais do que o fenômeno nacional, Tropa de Elite, o filme Ônibus 174 foi um dos melhores que vi nos últimos tempos. Uma brilhante análise da realidade social do país tendo como base o famoso seqüestro de um ônibus no Rio de Janeiro. Também não posso deixar de destacar O Auto da Compadecida, adaptado de teatro para cinema por Guel Arraes. Se eu disser que é um clássico, estarei subestimando.


Enfim, o que quero dizer é que o cinema brasileiro significa muito mais do que qualquer outro cinema para nós. Ele é o mais antropológico, o mais político, é fonte infinita do que achamos de nós mesmos e da nossa história que estamos continuamente construindo. Como diz a frase: “um país sem cinema é como uma casa sem espelhos”. E por que não gostar de cinema brasileiro? São tantos argumentos e os mesmo já se parecem tanto que para o discurso sobram redundâncias.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Português X Politiquês - Por Laura Gallindo

Em uma coletiva de imprensa uma jornalista perguntou a um pré-candidato a prefeito o que ele iria fazer caso fosse eleito. A resposta ressoou nos bastidores de um estúdio onde um outro pré-candidato repassava o texto para gravar um comercial. Não muito diferentes são os discursos arquivados em décadas de eleições e campanhas políticas. O português ganhou um novo dialeto falado exclusivamente pelos ‘‘Tupiniquins do Planalto’’.


Palanques ouvem incessantemente as inúmeras possibilidades sinonímias da língua portuguesa. Sai o ‘‘Pernambuco segue em frente’’ e entra o ‘‘Avança Pernambuco’’ que logo é substituído pelo ‘‘É tempo de mudança’. Os ouvidos atentos do povo procuram as sutilezas que diferenciam as propostas desses adversários-irmãos. O que mais lhe interessa? Um parece que vai desenvolver o estado através da educação para todos, outro através da melhoria do serviço de saúde pública e mais um que diz acabar com a violência no estado.


Não faltam promessas tentadoras que brincam com o imaginário popular. Os políticos lidam com o que de mais perene há em um homem: a esperança. Esta é renovada a cada dois anos com o recomeço de mais um período eleitoral e de promessas vindas de uma linguagem redonda, rebuscada e vazia. É fácil um analfabeto perder-se nesse politiquês desvairado que invade as ruas descalças de seu bairro profetando urbanização.


O que o senhor acha da violência? E José escuta: ‘‘Números exorbitantes. É preciso salientar a importância de estar revitalizando a força humana que gerencia o controle à violência. Estarei priorizando essa questão no decorrer do meu mandato.’’ Fico me perguntando se ele não poderia ter usado menos gerúndio. Talvez José tenha esboçado uma cara de aparvalhado que foi logo clicada pela assessoria do candidato. A legenda da foto será: ‘‘eleitor se impressiona com a proposta de combate a violência’’. José realmente impressionara-se. Após tão bela ordenação de palavras ele ainda não tinha chegado à conclusão sobre o que iria ser feito para reduzir os homicídios dos quais muitos de seus amigos já foram vítimas.


No Brasil dos contrastes o que falta a muitos dos nossos governantes e políticos é a desintoxicação de uma linguagem viciada em pompismos. O discurso não pode ter cara de gravata ou sorriso alinhado. Fala oca não mata fome nem educa o povo. Já está na hora dos nossos representantes ‘’descerem do planalto’’ e encararem a gramática da realidade brasileira.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Do you speak english? - Por Gabriela Valente

Sempre parei para pensar como a cultura norte-americana se espalhou pelo mundo. Ignorância talvez pensar: “por que eles?”, uma vez que é bem claro o fato de a cultura estar bastante ligada à globalização, ao capitalismo, que juntos trazem o poder. Não sabemos o que se produz, por exemplo, na China, no Japão, ou na Itália. Sabemos sim, muito bem tudo o que se produz nos EUA e um pouco na Inglaterra, mas aí por conta da língua inglesa.

Às vezes a cultura de fora nos parece melhor. Não que ela seja, mas parece, uma vez que já estamos acostumados a ela. Assim, copiamos estilos de vida que são usados como símbolos de modernidade e contemporaneidade. Vamos para as boates dançar, extravasar as energias, e para isso escutamos a música techno. Mas aqui no Brasil, temos ritmos tão dançantes quanto, tão energizantes quanto. Falar inglês e se inserir nessa cultura é como se fosse o sinônimo de uma garantia de que estamos dentro de uma expansão em nível global. Cantores como os Scorpions, que são alemães, ganharam a vida cantando em inglês. O U2 é um grupo irlandês que também se utiliza do inglês. Até a colombiana Shakira desistiu do seu espanhol e entrou na onda do verb to be. E quem é que hoje não conhece suas músicas?


Ao contrário do alemão, do russo ou do japonês, a língua inglesa é eficaz como elemento de comunicação de massa. Estruturas fáceis, gramática simples e a tendência a usar palavras mais curtas e sentenças mais objetivas e concisas, são vantajosas para a difusão da cultura de massa americana. Mas eu vivo me perguntando: o que é de fato a cultura americana (tirando fast foods, Disneylândia e hollywood), que aos meus olhos parecem um tanto vazios? Me questiono também se a cultura americana é de fato americana. Chego à conclusão que acabamos por viver na falsa ilusão de que os Estados Unidos transformam o mundo em uma réplica deles, enquanto que eles sim que são uma réplica do mundo. Mas ele é tanto consumidor de influências artísticas estrangeiras quanto um modelador de gostos e entretenimento no mundo todo.


O que acho um barato aqui no Brasil é o “abrasileiramento” que fazemos dos elementos de culturas estrangeiras. Aqui comemos sushi frito e pizza de banana com canela. E as raves, que são por excelência festas internacionais onde as pessoas aproveitam para aliar o ecstasy à música eletrônica (dito pelos usuários como a combinação perfeita), aqui no Brasil o pessoal fica na velha e boa cerveijinha. Mas poxa, cerveja combina com o nosso samba!!


É com esses pequenos elementos que nos distanciamos um pouco dessa obsessão de cultura global. Não é que ela me apavore, até porque eu também faço parte do bolo que já está imerso nela. O que me dá arrepio é pensar em uma tendência à uniformização cultural e ao esquecimento do que temos para mostrar de diferente, de novo, que é o que de fato importa.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Diário do Holocausto - Por Laura Gallindo

Liguei, há algumas semanas, para uma grande amiga, Cacau de Paula, que está passando um tempo na Europa. Ela atendeu ao celular com uma voz sufocada: ‘não posso falar, estou no museu de Anne Frank, você sabe o que isso significa para mim. Tchau. Depois te ligo.’ O museu fica em Amsterdã, onde viveu, no Anexo Secreto, Anne Frank com seus pais, irmãos e uma outra família, também de judeus. Esse esconderijo foi um dos milhares que surgiram pela Europa durante o Holocausto, na II Guerra Mundial (1939–1945).


Anne Frank com treze anos foi testemunha de uma época em que mais se violou os Direitos Humanos, tempo de absoluta depuração. Homens escondendo-se dos próprios homens. Medo. Campos de Concentração. Nossa geração é vinda de horrores que a história não nega. A democracia, a globalização e a liberdade a qual vivemos hoje, há algumas décadas, era utopia para os flagelados das ditaduras que varreram o mundo. Muito do que aconteceu nas Câmaras de Gás ainda se desconhece, porque corpos mutilados não têm força para contar os seus segredos.


Mas é sempre tempo de lutar contra o esquecimento, sintoma da voraz modernidade. É sempre tempo de nos impressionarmos com a vida frágil que nos pertence, tão frágil quanto o limite entre a loucura e a sanidade da mente humana. ‘O homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera’, já dizia Augusto dos Anjos em uma de suas pessimistas autópsias da alma.


A maldade é um remédio maldito, um vício que alimenta a dor de um mundo carente de amor. Costuma-se abominar a existência do líder nazista. Não foi só um homem megalomaníaco, Hitler, quem matou milhares de judeus. Eu abomino também aqueles que morreram fardados, fora de corredores escuros, esconderijos ou salas asfixiantes, sem nada fazer.


Cacau,é a eterna mágoa que carregamos que te deixou suspensa. Sei sim o que significa para você ter imergido tão profundamente no Diário de Anne Frank, na história que nos rouba por uns segundos toda a esperança. Deixei-te com teu silêncio, amiga. E comungo dele como todos o deviam fazer. Porque é a fraternidade que mantém nossa humanidade e nos afasta da sombra que perscruta a difícil arte de conviver.


Do holocausto fica a lição de uma época em que o homem despiu-se de todas as suas fraquezas e tornou-se outrém que não homem. Hoje, é tempo de ouvir os ruídos de uma humanidade já caduca e refletir que a grandeza de um homem jaz não na grandiosidade de seus feitos mas no auto-conhecimento dos seus limites.

terça-feira, 20 de maio de 2008

JUSTIFICATIVA AOS CARÍSSIMOS LEITORES: GABRIELA VALENTE E LAURA GALLINDO LTDA.

Comecemos sem preâmbulos. Nosso mestre Drummond já dizia: ‘escrever é cortar palavras’. Então, vou seguir logo o esquema de um lead, daqueles clássicos da pirâmide invertida e partir logo das informações mais importantes.


Toda sociedade surge de motivos diversos: amizade, família ou uma mera empatia. Gabriela Valente e Laura Gallindo não se enquadram em tais asneiras. Para começar, não são do tipo que misturam amizade com trabalho. Também não têm laços consangüíneos. Empatia muito menos. Não pode haver, neste mundo, pessoas mais opostas. O que, então, o caro leitor deve estar se perguntando, uniu Laura Gallindo e Gabriela Valente no projeto de um Blog? É o que querem, ambas, despretensiosamente, descobrir.


Não houve nenhum convite formal de nenhuma parte. Gabi não confia em Laura no que diz respeito a prazos. Laura teme assustar Gabi com seus escritos autocráticos. Mas, elas se abraçaram, felicitando-se, quando imaginaram seus textos comungando o mesmo espaço, mesmo que virtual. Cá pra nós, isso é admiração. Elas se admiram secretamente.


Ta bom, não vou tentar mais enrolar vocês: Gabi e Laurinha são amigas de infância, possuem uma irmandade que transcende qualquer laço sanguíneo e têm uma empatia enorme em diversas coisas, a começar no gosto pelo jornalismo e no atropelo que causam às próprias palavras no falar rápido de ambas. Elas parecem a Quinta sinfonia de Beethoven interpretada por um locutor de leilão. Mas elas se entendem. Os leitores é que correm o risco de perderem-se.


Fala Rápida é isso: soltar o verbo. Ambiente para rever velhos e novos amigos. Escutar críticas e morrer de rir. Não pretendemos dar uma conotação político-partidária, mas as bandeiras logo irão se erguer, pois a parada aqui é dar a sua opinião.


Agora que a intimidade de nossas queridas jornalistas já foi escancarada, ficou claro o risco que os leitores correm de presenciarem uma implosão. Já que tudo está transparente então podemos dar início ao tão esperado Bêabá das idéias.


TENHO A HONRA DE ANUNCIAR A NOVA ERA DO SÓ-LETRANDO: por Gabriela Valente e Laura Gallindo.

Pulga Magna

segunda-feira, 19 de maio de 2008

19 de maio é dia de apagar as velinhas!!


Venho hoje aqui numa postagem atípica para lembrar aos leitores que hoje o Fala Rápida completa um mês de existência! Estou muito feliz com a repercussão que o blog está tendo! As pessoas falam comigo sobre os textos, me cobram as postagens, perguntam qual o tema da semana, e alguns estão interagindo através dos comentários, sempre bastante pertinentes. E é para vocês, meus queridos e pacientes leitores, para quem vai o presente. Amanhã o blog vai apresentá-los uma surpresa e algumas mudanças editoriais. AGUARDEM!

Beijos e abraços para todos, e muito obrigada!

Gabriela Valente

sexta-feira, 16 de maio de 2008

POSTAGEM EXTRAORDINÁRIA:

Como todos sabem, posto apenas nas terças-feiras, mas recebi um comentário essa semana a respeito do primeiro texto meu aqui do blog, o que falava sobre o PAN. Como eu sei que nem todo mundo acessa os comentários, eu não poderia deixar de dividir esse texto incrível escrito por Laura Gallindo, minha amigona Laurinha! Ela inclusive vai ter seu espaço aqui no blog no próximo post (aguardem!). Quem tiver interesse pode acessar outros comentários aqui do blog e se deliciar com outros textos maravilhosos dela e de outras pessoas! Valeu pessoal, com vocês o So-letrando está caminhando sempre em frente!

"Comparado a um quadro renascentista, eu diria, foi o PAN, feito com um proposta superficialmente estética. Busca a perfeição das formas, feito mercenariamente para ser vendido para os 'reis' e ricos 'burgueses'. O Cristo do rio abre seus braços no morro, já o governo, abre braços, pernas e o que mais puder para trocar favores com a classe média brasileira. O pior: descaradamente, sem pudores. Mas para que ter pudores? se quem pode, tem senso crítico, não critica. O Brasil é rico sim, Gabi, rico de sem-vergonhice. E isso não está só nos fios-dentais de Ipanema. A gracinha é mais oficial. No país do carnaval palhaçada já virou ministério. E para os miseráveis que os morros escondem dos cartões-postais restou o cristo redentor. Este não desce de jeito nenhum, mora entre fogo cruzado. Pelo menos já virou uma das maravilhas do mundo..."

Laura.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Somos todos miseráveis - Por Gabriela Valente

A questão da miséria no Brasil está sendo tratada sem a profundidade que merece. Hoje, em cada sinal que paramos, somos abordados por lavadores de carro, malabaristas, crianças que brincam com fogo, e tudo isso por uma moedinha. Os meninos de rua não têm o menor espaço na sociedade, eles não têm visibilidade, expressão social. E uma das maneiras que eles encontram para aparecerem e serem vistos acaba sendo exatamente essa. Mas a elite que pára nesses sinais não se choca mais com esses meninos artistas, com esses meninos que imploram por dez centavos.

A situação nunca vai se resolver com essa elite que é e quer ser isenta do problema, que prefere continuar cega a se sentir cobrada e cutucada por um problema que também é dela. Alguns acabam dando esmola na esperança de uma salvação, essa que não vai vir nunca. Esses miseráveis nos forçam a uma reflexão que não queremos fazer ou que não estamos preparados. Mas apesar de ignorados, os miseráveis se recusam a desaparecer e ficam martelando cada vez mais nossa mente e servindo de vitrine a nossos olhos.

E o erro dos que tentam acabar com esse estado de pobreza é achar que ela se instala do lado de fora da nossa vida. Mas nós fazemos parte dela. O problema é pensar que assistencialismo resolve, mas a miséria tem sido tão ingrata com o PT que “se recusa a comer o Fome Zero” e acaba por também demonstrar a ineficiência do Bolsa Família. Muito pior que essa miséria que tem como verdadeira causa o sistema estrutural é a miséria na mente dos que têm tudo para melhorar a situação e não o fazem. E como disse Arnaldo Jabor em seu livro Pornô Política, “Hoje sabemos que não há nem futuro e nem chegada, só caminho”. Vamos em frente.

terça-feira, 6 de maio de 2008

O sentido anti-horário da vida - Por Gabriela Valente



Esse texto eu escrevi quando acabei de ler um livro chamado “O elogio ao ócio”, do filósofo inglês Bertrand Russell. Para mim ele tem as principais características de um grande pensador, dentre as quais ir além de seu tempo. E ele foi. Russell versou muito sobre o tempo, nosso tempo de trabalho e de lazer, e foi muito feliz nas considerações e nas previsões que fez sobre a nossa vida atual. Vamos lá!



Na sociedade como um todo, o trabalho é tido como um forte elemento para tornar o homem digno. Até exagerando, eu diria que o trabalho é o maior elemento para dignificar o homem. Um exemplo disso são aquelas pessoas que classificam outras que trabalham pouco de “vida boa”. E daí? Ninguém pode ter uma vida boa? Para sermos dignos temos que dar duro, suar o dia inteiro? Porém, o trabalho não é o principal objetivo da vida. Se fosse, as pessoas gostariam de trabalhar.


É incrível, desde que inventaram a frase dizendo que tempo é igual a dinheiro, as pessoas vivem pautadas no trabalho. O problema todo é que hoje, de tanto que se dedicam ao ofício, as pessoas acabam não tendo tempo para se divertirem, ou escolhem divertimentos passivos e monótonos por conta do cansaço. E como diz Russell, talvez se a situação não fosse essa, os indivíduos poderiam até usar o tempo livre em atividades de utilidade pública, e como não dependeriam dessas atividades para sua sobrevivência, não teriam a originalidade tolhida e nem a necessidade de se amoldarem aos padrões estabelecidos.


Outro ponto que gostaria de destacar é a tecnologia e o uso de máquinas. O computador, por exemplo, que veio para nos auxiliar, ao invés de reduzir nossas jornadas de trabalho, acabou aumentando. Todas as empresas vivem pautadas na produtividade, e se hoje com as máquinas podemos produzir o dobro no mesmo tempo, ninguém pensou em reduzir o tempo de trabalho pela metade e continuar produzindo a mesma quantidade que já era suficiente. Hoje, só se pensa em números, em mais e mais.


Olhem o sistema em que vivemos hoje: aos 3 anos já estamos na escola e aos 14 já começamos com a pressão do que vamos querer ser. Aos 17 escolhemos nossa profissão, aos 23 temos um diploma. Se continuarmos assim aos 60 já podemos nos aposentar. Com a expectativa de vida aumentando, temos mais 20 ou 30 anos pela frente. O que vamos fazer com esse tempo livre? Alguém sabe? Alguém foi preparado pra isso?


Deveríamos tentar mudar a nossa noção de tempo. Tanto o tempo que destinamos ao trabalho quanto ao lazer. É complicado, EU sei, mas estou tentando praticar o exercício do grande sociólogo italiano Domenico de Masi que defende o chamado “Ócio criativo”. Quem sabe em outro texto eu explico isso, pois agora vou me dedicar ao meu fazer nada... ZzzZZZ

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Uma arte pela outra? - Por Gabriela Valente




É muito comum nos depararmos com gente que compara livros e filmes. Coisa do tipo: “ah, eu vi o filme tal, mas o livro é muito melhor”, ou o contrário. Fora isso, existem aqueles que fazem o tipo de comentário óbvio, como “o livro tem bem mais detalhes”. Como podemos querer que em aproximadamente duas horas se explore 300 ou 400 páginas? Como podemos comparar dois tipos de artes tão diferentes?
No meu ponto de vista, quando as pessoas lêem um livro e se envolvem com ele, elas têm o desejo de materializar aquilo que elas leram. E o filme oferece exatamente isso. A imagem do que lemos sacia a nossa ânsia de sentir pelo olhar e não mais apenas pelo pensamento. Digo isso, porque quando apenas lemos um livro, fazemos toda aquela história em nossas mentes. Imaginamos os personagens, os lugares, fantasiamos as cenas e as ações. Tudo isso é o que nós construímos com base no que o escritor nos oferece. E o que o filme faz? Ele simplesmente quebra o nosso conteúdo imaginário e nos dá uma fórmula pronta. Com isso, quando o filme acaba, ficamos com a memória que o filme nos deu e não mais da nossa própria autoria.

Não vou negar. Quando lança um filme de um livro que li, fico louca pra ver. De certa forma, temos a sensação de que vamos entrar mais na história, nos envolver mais. Mas no final eu nem lembro mais de como eu pensava que aquela história era. Eu hoje não lembro mais como eu imaginava o MEU Robert Langdon, mas eu sei como ele era no filme O Código da Vinci. E ele hoje pra mim não passa do rosto de Tom Hanks.

Mas encaro isso como algo natural. Afinal de contas, o que é melhor, ler um livro com figuras ou sem figuras? Ler um livro de turismo ou ver um vídeo sobre o lugar, ou até mesmo conferir de perto? Mas voltando ao meu tópico principal, filmes e livros, fico feliz quando vejo que a grande maioria diz que prefere o livro ao filme. Não podemos perder de vista a concorrência desleal que é uma tela gigante cheia de cores, atuações espetaculares e efeitos especiais com algumas páginas brancas ou beges. Essa enorme tela nos TRAZ a luz, a mesma que precisamos TER para lermos o livro. Sentiram a diferença?

Passou-me agora pela cabeça se não fiz esse texto todo apenas na tentativa de nas entrelinhas defender um tipo de arte que eu sou apaixonada, que é a literatura. Os livros eles simplesmente aguçam nossa imaginação. Ele divide conosco o direito de criar. Com ele não somos totalmente passivos. E como disse o grande escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón, que escreveu o último livro que eu li, A Sombra do Vento: “O livro é um espelho e só podemos encontrar nele o que já temos dentro, que ao ler aplicamos a mente e a alma, e estes são bens cada dia mais escassos. Cada livro, cada volume que vês, têm alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele”. Se estava nas entrelinhas, acho que agora escancarei...
Gabriela Valente

sábado, 19 de abril de 2008

Um triste espetáculo - Por Gabriela Valente

É um verdadeiro ABSURDO o que o jornalismo do país está fazendo com o caso Isabella. Alguns programas estão transgredindo o sentido de cobertura jornalística para fazerem uma verdadeira novela do caso.

Estava com a televisão ligada na TV aberta agora de tarde. Dois canais estavam fazendo mais um resumo de todos os fatos do caso e procurando extrair não sei mais de onde, informações novas. Para preencher o tempo do programa eles ainda ficam repetindo a todo instante o que já disseram e o que é pior: utilizam recursos de cortar a cobertura em partes de clímax e ficam enrolando para garantir que todos continuem com os olhos grudados na tela. Chega a ser até um teatro. Quem tem o mínimo de bom senso pode notar que várias dessas “novas informações” não têm a menor relevância. Mas ao invés de as emissoras fazerem um apanhado geral das novidades do caso e colocarem a matéria no telejornal do dia, eles preferem tentar ganhar dinheiro atraindo a audiência para programas ditos jornalísticos, mas que na verdade nada mais estão fazendo do que espetacularização dos acontecimentos.

As pessoas têm que abrir os olhos para isso e não se deixarem ludibriar com esse tipo de programa de argumentos falaciosos que fazem qualquer coisa suja para atrair audiência. Estamos sendo enganados, manipulados. Será que fora o assassinato de Isabella não tem mais nada acontecendo no país? Espero que a triste história dessa menina seja logo desvendada e que enfim se resolva. Mas eu espero mais ainda que os próximos casos que apareçam tenham o devido tratamento dessa mídia que hoje se esconde atrás do argumento de que é isso que o povo gosta, enquanto que na verdade todos estão embebedados por uma imprensa sensacionalista que nem forma e nem informa.

R$ PAN,00 - Por Gabriela Valente


Esse texto eu escrevi no ano passado, quando foram divulgados os gastos com o evento. Vamos conferir.





Os XV Jogos Pan-americanos Rio 2007 deram muito que falar. Um evento que não mais carece de elogios, em termos de grandiosidade, beleza, segurança e uma relativa organização. Digo relativa, pois não podia faltar o “jeitinho brasileiro” em determinadas situações. Pois é, enquanto que a China está retardando o ritmo das obras em Pequim, a abertura dos Jogos Pan-americanos no Rio contou com um atraso de meia hora. Fora a Vila Olímpica, que até agora, mesmo depois do final dos Jogos, ainda permanece inacabada.

Mas o que venho aqui comentar é como o Brasil é um país rico. Rico de cultura, de pessoas, de belezas naturais, mas rico principalmente de dinheiro! É incrível como um país tão rico que nem esse que gasta 3,8 bilhões de reais para a realização dos Jogos Pan-americanos, seja uma verdadeira vitrine de tanta pobreza. Ironias à parte, o que ficou na cabeça de muitos brasileiros depois da prestação de contas do Pan foi que o Brasil quis mostrar algo que não é. Mascarando a miséria, a desigualdade, a fome e o desemprego, o país passou 16 dias de puro espetáculo. A periferia do Rio precisa de muitas obras, é verdade, mas será que alguma como o Estádio João Havelange?

Esses bilhões foram muito bem usados para a classe média, que se entreteve vendo a cobertura completa dos Jogos. Enquanto isso, quem de fato ganhava dinheiro com o Pan eram os donos dos veículos de comunicação, os anunciantes, os fornecedores, os donos de hotéis, enfim, quem já vem acumulando capital sem problemas. E onde ficam os excluídos, que correspondem a 70% da população? O que o Pan mudou na vida dessas pessoas?

Imaginemos que essa dinheirama toda tivesse sido usada para a urbanização de certas favelas do próprio Rio de Janeiro, ou para a socialização e educação de crianças dessas comunidades, que entram no narcotráfico desde muito pequenas. E se pelo menos essa verba toda fosse para dar apoio ao esporte do país... Mas tudo isso foi gasto numa brilhante festa!

O Brasil não procura reverter esse grande quadro de valores deturpados e parece que nunca vai acabar com esse triste sistema de acumulação de capital nas mãos dos que já têm. Parabéns Brasil! Você ficou em terceiro lugar no quadro de medalhas, mas infelizmente é o 63º país em desenvolvimento social.