segunda-feira, 28 de abril de 2008

Uma arte pela outra? - Por Gabriela Valente




É muito comum nos depararmos com gente que compara livros e filmes. Coisa do tipo: “ah, eu vi o filme tal, mas o livro é muito melhor”, ou o contrário. Fora isso, existem aqueles que fazem o tipo de comentário óbvio, como “o livro tem bem mais detalhes”. Como podemos querer que em aproximadamente duas horas se explore 300 ou 400 páginas? Como podemos comparar dois tipos de artes tão diferentes?
No meu ponto de vista, quando as pessoas lêem um livro e se envolvem com ele, elas têm o desejo de materializar aquilo que elas leram. E o filme oferece exatamente isso. A imagem do que lemos sacia a nossa ânsia de sentir pelo olhar e não mais apenas pelo pensamento. Digo isso, porque quando apenas lemos um livro, fazemos toda aquela história em nossas mentes. Imaginamos os personagens, os lugares, fantasiamos as cenas e as ações. Tudo isso é o que nós construímos com base no que o escritor nos oferece. E o que o filme faz? Ele simplesmente quebra o nosso conteúdo imaginário e nos dá uma fórmula pronta. Com isso, quando o filme acaba, ficamos com a memória que o filme nos deu e não mais da nossa própria autoria.

Não vou negar. Quando lança um filme de um livro que li, fico louca pra ver. De certa forma, temos a sensação de que vamos entrar mais na história, nos envolver mais. Mas no final eu nem lembro mais de como eu pensava que aquela história era. Eu hoje não lembro mais como eu imaginava o MEU Robert Langdon, mas eu sei como ele era no filme O Código da Vinci. E ele hoje pra mim não passa do rosto de Tom Hanks.

Mas encaro isso como algo natural. Afinal de contas, o que é melhor, ler um livro com figuras ou sem figuras? Ler um livro de turismo ou ver um vídeo sobre o lugar, ou até mesmo conferir de perto? Mas voltando ao meu tópico principal, filmes e livros, fico feliz quando vejo que a grande maioria diz que prefere o livro ao filme. Não podemos perder de vista a concorrência desleal que é uma tela gigante cheia de cores, atuações espetaculares e efeitos especiais com algumas páginas brancas ou beges. Essa enorme tela nos TRAZ a luz, a mesma que precisamos TER para lermos o livro. Sentiram a diferença?

Passou-me agora pela cabeça se não fiz esse texto todo apenas na tentativa de nas entrelinhas defender um tipo de arte que eu sou apaixonada, que é a literatura. Os livros eles simplesmente aguçam nossa imaginação. Ele divide conosco o direito de criar. Com ele não somos totalmente passivos. E como disse o grande escritor espanhol Carlos Ruiz Zafón, que escreveu o último livro que eu li, A Sombra do Vento: “O livro é um espelho e só podemos encontrar nele o que já temos dentro, que ao ler aplicamos a mente e a alma, e estes são bens cada dia mais escassos. Cada livro, cada volume que vês, têm alma. A alma de quem o escreveu e a alma dos que o leram e viveram e sonharam com ele”. Se estava nas entrelinhas, acho que agora escancarei...
Gabriela Valente

sábado, 19 de abril de 2008

Um triste espetáculo - Por Gabriela Valente

É um verdadeiro ABSURDO o que o jornalismo do país está fazendo com o caso Isabella. Alguns programas estão transgredindo o sentido de cobertura jornalística para fazerem uma verdadeira novela do caso.

Estava com a televisão ligada na TV aberta agora de tarde. Dois canais estavam fazendo mais um resumo de todos os fatos do caso e procurando extrair não sei mais de onde, informações novas. Para preencher o tempo do programa eles ainda ficam repetindo a todo instante o que já disseram e o que é pior: utilizam recursos de cortar a cobertura em partes de clímax e ficam enrolando para garantir que todos continuem com os olhos grudados na tela. Chega a ser até um teatro. Quem tem o mínimo de bom senso pode notar que várias dessas “novas informações” não têm a menor relevância. Mas ao invés de as emissoras fazerem um apanhado geral das novidades do caso e colocarem a matéria no telejornal do dia, eles preferem tentar ganhar dinheiro atraindo a audiência para programas ditos jornalísticos, mas que na verdade nada mais estão fazendo do que espetacularização dos acontecimentos.

As pessoas têm que abrir os olhos para isso e não se deixarem ludibriar com esse tipo de programa de argumentos falaciosos que fazem qualquer coisa suja para atrair audiência. Estamos sendo enganados, manipulados. Será que fora o assassinato de Isabella não tem mais nada acontecendo no país? Espero que a triste história dessa menina seja logo desvendada e que enfim se resolva. Mas eu espero mais ainda que os próximos casos que apareçam tenham o devido tratamento dessa mídia que hoje se esconde atrás do argumento de que é isso que o povo gosta, enquanto que na verdade todos estão embebedados por uma imprensa sensacionalista que nem forma e nem informa.

R$ PAN,00 - Por Gabriela Valente


Esse texto eu escrevi no ano passado, quando foram divulgados os gastos com o evento. Vamos conferir.





Os XV Jogos Pan-americanos Rio 2007 deram muito que falar. Um evento que não mais carece de elogios, em termos de grandiosidade, beleza, segurança e uma relativa organização. Digo relativa, pois não podia faltar o “jeitinho brasileiro” em determinadas situações. Pois é, enquanto que a China está retardando o ritmo das obras em Pequim, a abertura dos Jogos Pan-americanos no Rio contou com um atraso de meia hora. Fora a Vila Olímpica, que até agora, mesmo depois do final dos Jogos, ainda permanece inacabada.

Mas o que venho aqui comentar é como o Brasil é um país rico. Rico de cultura, de pessoas, de belezas naturais, mas rico principalmente de dinheiro! É incrível como um país tão rico que nem esse que gasta 3,8 bilhões de reais para a realização dos Jogos Pan-americanos, seja uma verdadeira vitrine de tanta pobreza. Ironias à parte, o que ficou na cabeça de muitos brasileiros depois da prestação de contas do Pan foi que o Brasil quis mostrar algo que não é. Mascarando a miséria, a desigualdade, a fome e o desemprego, o país passou 16 dias de puro espetáculo. A periferia do Rio precisa de muitas obras, é verdade, mas será que alguma como o Estádio João Havelange?

Esses bilhões foram muito bem usados para a classe média, que se entreteve vendo a cobertura completa dos Jogos. Enquanto isso, quem de fato ganhava dinheiro com o Pan eram os donos dos veículos de comunicação, os anunciantes, os fornecedores, os donos de hotéis, enfim, quem já vem acumulando capital sem problemas. E onde ficam os excluídos, que correspondem a 70% da população? O que o Pan mudou na vida dessas pessoas?

Imaginemos que essa dinheirama toda tivesse sido usada para a urbanização de certas favelas do próprio Rio de Janeiro, ou para a socialização e educação de crianças dessas comunidades, que entram no narcotráfico desde muito pequenas. E se pelo menos essa verba toda fosse para dar apoio ao esporte do país... Mas tudo isso foi gasto numa brilhante festa!

O Brasil não procura reverter esse grande quadro de valores deturpados e parece que nunca vai acabar com esse triste sistema de acumulação de capital nas mãos dos que já têm. Parabéns Brasil! Você ficou em terceiro lugar no quadro de medalhas, mas infelizmente é o 63º país em desenvolvimento social.