sábado, 19 de abril de 2008

R$ PAN,00 - Por Gabriela Valente


Esse texto eu escrevi no ano passado, quando foram divulgados os gastos com o evento. Vamos conferir.





Os XV Jogos Pan-americanos Rio 2007 deram muito que falar. Um evento que não mais carece de elogios, em termos de grandiosidade, beleza, segurança e uma relativa organização. Digo relativa, pois não podia faltar o “jeitinho brasileiro” em determinadas situações. Pois é, enquanto que a China está retardando o ritmo das obras em Pequim, a abertura dos Jogos Pan-americanos no Rio contou com um atraso de meia hora. Fora a Vila Olímpica, que até agora, mesmo depois do final dos Jogos, ainda permanece inacabada.

Mas o que venho aqui comentar é como o Brasil é um país rico. Rico de cultura, de pessoas, de belezas naturais, mas rico principalmente de dinheiro! É incrível como um país tão rico que nem esse que gasta 3,8 bilhões de reais para a realização dos Jogos Pan-americanos, seja uma verdadeira vitrine de tanta pobreza. Ironias à parte, o que ficou na cabeça de muitos brasileiros depois da prestação de contas do Pan foi que o Brasil quis mostrar algo que não é. Mascarando a miséria, a desigualdade, a fome e o desemprego, o país passou 16 dias de puro espetáculo. A periferia do Rio precisa de muitas obras, é verdade, mas será que alguma como o Estádio João Havelange?

Esses bilhões foram muito bem usados para a classe média, que se entreteve vendo a cobertura completa dos Jogos. Enquanto isso, quem de fato ganhava dinheiro com o Pan eram os donos dos veículos de comunicação, os anunciantes, os fornecedores, os donos de hotéis, enfim, quem já vem acumulando capital sem problemas. E onde ficam os excluídos, que correspondem a 70% da população? O que o Pan mudou na vida dessas pessoas?

Imaginemos que essa dinheirama toda tivesse sido usada para a urbanização de certas favelas do próprio Rio de Janeiro, ou para a socialização e educação de crianças dessas comunidades, que entram no narcotráfico desde muito pequenas. E se pelo menos essa verba toda fosse para dar apoio ao esporte do país... Mas tudo isso foi gasto numa brilhante festa!

O Brasil não procura reverter esse grande quadro de valores deturpados e parece que nunca vai acabar com esse triste sistema de acumulação de capital nas mãos dos que já têm. Parabéns Brasil! Você ficou em terceiro lugar no quadro de medalhas, mas infelizmente é o 63º país em desenvolvimento social.

2 comentários:

Anônimo disse...

O texto tá ótimo, gostei principalmente da parte que fala como o Brasil se mascarou pra realizar o pan. Quem esteve no Rio de Janeiro se impressionou com a sensação de segurança numa das cidades mais perigosas do Brasil.

Arrasou escritora!

;***

Anônimo disse...

Comparado a um quadro renascentista, eu diria, foi o PAN. feito com um proposta superficialmente estética. Busca a perfeição das formas, feito mercenariamente para ser vendido para os 'reis' e ricos 'burgueses'. O Cristo do rio abre seus braços no morro, já o governo, abre braços, pernas e o que mais puder para trocar favores com a classe média brasileira. O pior: descaradamente, sem pudores. Mas para que ter pudores? se quem pode, tem senso crítico, não critica. o Brasil é rico sim, Gabi, rico de sem-vergonhice. E isso não está só nos fios-dentais de Ipanema. A gracinha é mais oficial. no país do carnaval palhaçada já virou ministério. E para os miseráveis que os morros escondem dos cartões-postais restou o cristo redentor. Este não desce de jeito nenhum, mora entre fogo cruzado. Pelo menos já virou uma das maravilhas do mundo...