quinta-feira, 29 de maio de 2008

Do you speak english? - Por Gabriela Valente

Sempre parei para pensar como a cultura norte-americana se espalhou pelo mundo. Ignorância talvez pensar: “por que eles?”, uma vez que é bem claro o fato de a cultura estar bastante ligada à globalização, ao capitalismo, que juntos trazem o poder. Não sabemos o que se produz, por exemplo, na China, no Japão, ou na Itália. Sabemos sim, muito bem tudo o que se produz nos EUA e um pouco na Inglaterra, mas aí por conta da língua inglesa.

Às vezes a cultura de fora nos parece melhor. Não que ela seja, mas parece, uma vez que já estamos acostumados a ela. Assim, copiamos estilos de vida que são usados como símbolos de modernidade e contemporaneidade. Vamos para as boates dançar, extravasar as energias, e para isso escutamos a música techno. Mas aqui no Brasil, temos ritmos tão dançantes quanto, tão energizantes quanto. Falar inglês e se inserir nessa cultura é como se fosse o sinônimo de uma garantia de que estamos dentro de uma expansão em nível global. Cantores como os Scorpions, que são alemães, ganharam a vida cantando em inglês. O U2 é um grupo irlandês que também se utiliza do inglês. Até a colombiana Shakira desistiu do seu espanhol e entrou na onda do verb to be. E quem é que hoje não conhece suas músicas?


Ao contrário do alemão, do russo ou do japonês, a língua inglesa é eficaz como elemento de comunicação de massa. Estruturas fáceis, gramática simples e a tendência a usar palavras mais curtas e sentenças mais objetivas e concisas, são vantajosas para a difusão da cultura de massa americana. Mas eu vivo me perguntando: o que é de fato a cultura americana (tirando fast foods, Disneylândia e hollywood), que aos meus olhos parecem um tanto vazios? Me questiono também se a cultura americana é de fato americana. Chego à conclusão que acabamos por viver na falsa ilusão de que os Estados Unidos transformam o mundo em uma réplica deles, enquanto que eles sim que são uma réplica do mundo. Mas ele é tanto consumidor de influências artísticas estrangeiras quanto um modelador de gostos e entretenimento no mundo todo.


O que acho um barato aqui no Brasil é o “abrasileiramento” que fazemos dos elementos de culturas estrangeiras. Aqui comemos sushi frito e pizza de banana com canela. E as raves, que são por excelência festas internacionais onde as pessoas aproveitam para aliar o ecstasy à música eletrônica (dito pelos usuários como a combinação perfeita), aqui no Brasil o pessoal fica na velha e boa cerveijinha. Mas poxa, cerveja combina com o nosso samba!!


É com esses pequenos elementos que nos distanciamos um pouco dessa obsessão de cultura global. Não é que ela me apavore, até porque eu também faço parte do bolo que já está imerso nela. O que me dá arrepio é pensar em uma tendência à uniformização cultural e ao esquecimento do que temos para mostrar de diferente, de novo, que é o que de fato importa.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Diário do Holocausto - Por Laura Gallindo

Liguei, há algumas semanas, para uma grande amiga, Cacau de Paula, que está passando um tempo na Europa. Ela atendeu ao celular com uma voz sufocada: ‘não posso falar, estou no museu de Anne Frank, você sabe o que isso significa para mim. Tchau. Depois te ligo.’ O museu fica em Amsterdã, onde viveu, no Anexo Secreto, Anne Frank com seus pais, irmãos e uma outra família, também de judeus. Esse esconderijo foi um dos milhares que surgiram pela Europa durante o Holocausto, na II Guerra Mundial (1939–1945).


Anne Frank com treze anos foi testemunha de uma época em que mais se violou os Direitos Humanos, tempo de absoluta depuração. Homens escondendo-se dos próprios homens. Medo. Campos de Concentração. Nossa geração é vinda de horrores que a história não nega. A democracia, a globalização e a liberdade a qual vivemos hoje, há algumas décadas, era utopia para os flagelados das ditaduras que varreram o mundo. Muito do que aconteceu nas Câmaras de Gás ainda se desconhece, porque corpos mutilados não têm força para contar os seus segredos.


Mas é sempre tempo de lutar contra o esquecimento, sintoma da voraz modernidade. É sempre tempo de nos impressionarmos com a vida frágil que nos pertence, tão frágil quanto o limite entre a loucura e a sanidade da mente humana. ‘O homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera’, já dizia Augusto dos Anjos em uma de suas pessimistas autópsias da alma.


A maldade é um remédio maldito, um vício que alimenta a dor de um mundo carente de amor. Costuma-se abominar a existência do líder nazista. Não foi só um homem megalomaníaco, Hitler, quem matou milhares de judeus. Eu abomino também aqueles que morreram fardados, fora de corredores escuros, esconderijos ou salas asfixiantes, sem nada fazer.


Cacau,é a eterna mágoa que carregamos que te deixou suspensa. Sei sim o que significa para você ter imergido tão profundamente no Diário de Anne Frank, na história que nos rouba por uns segundos toda a esperança. Deixei-te com teu silêncio, amiga. E comungo dele como todos o deviam fazer. Porque é a fraternidade que mantém nossa humanidade e nos afasta da sombra que perscruta a difícil arte de conviver.


Do holocausto fica a lição de uma época em que o homem despiu-se de todas as suas fraquezas e tornou-se outrém que não homem. Hoje, é tempo de ouvir os ruídos de uma humanidade já caduca e refletir que a grandeza de um homem jaz não na grandiosidade de seus feitos mas no auto-conhecimento dos seus limites.

terça-feira, 20 de maio de 2008

JUSTIFICATIVA AOS CARÍSSIMOS LEITORES: GABRIELA VALENTE E LAURA GALLINDO LTDA.

Comecemos sem preâmbulos. Nosso mestre Drummond já dizia: ‘escrever é cortar palavras’. Então, vou seguir logo o esquema de um lead, daqueles clássicos da pirâmide invertida e partir logo das informações mais importantes.


Toda sociedade surge de motivos diversos: amizade, família ou uma mera empatia. Gabriela Valente e Laura Gallindo não se enquadram em tais asneiras. Para começar, não são do tipo que misturam amizade com trabalho. Também não têm laços consangüíneos. Empatia muito menos. Não pode haver, neste mundo, pessoas mais opostas. O que, então, o caro leitor deve estar se perguntando, uniu Laura Gallindo e Gabriela Valente no projeto de um Blog? É o que querem, ambas, despretensiosamente, descobrir.


Não houve nenhum convite formal de nenhuma parte. Gabi não confia em Laura no que diz respeito a prazos. Laura teme assustar Gabi com seus escritos autocráticos. Mas, elas se abraçaram, felicitando-se, quando imaginaram seus textos comungando o mesmo espaço, mesmo que virtual. Cá pra nós, isso é admiração. Elas se admiram secretamente.


Ta bom, não vou tentar mais enrolar vocês: Gabi e Laurinha são amigas de infância, possuem uma irmandade que transcende qualquer laço sanguíneo e têm uma empatia enorme em diversas coisas, a começar no gosto pelo jornalismo e no atropelo que causam às próprias palavras no falar rápido de ambas. Elas parecem a Quinta sinfonia de Beethoven interpretada por um locutor de leilão. Mas elas se entendem. Os leitores é que correm o risco de perderem-se.


Fala Rápida é isso: soltar o verbo. Ambiente para rever velhos e novos amigos. Escutar críticas e morrer de rir. Não pretendemos dar uma conotação político-partidária, mas as bandeiras logo irão se erguer, pois a parada aqui é dar a sua opinião.


Agora que a intimidade de nossas queridas jornalistas já foi escancarada, ficou claro o risco que os leitores correm de presenciarem uma implosão. Já que tudo está transparente então podemos dar início ao tão esperado Bêabá das idéias.


TENHO A HONRA DE ANUNCIAR A NOVA ERA DO SÓ-LETRANDO: por Gabriela Valente e Laura Gallindo.

Pulga Magna

segunda-feira, 19 de maio de 2008

19 de maio é dia de apagar as velinhas!!


Venho hoje aqui numa postagem atípica para lembrar aos leitores que hoje o Fala Rápida completa um mês de existência! Estou muito feliz com a repercussão que o blog está tendo! As pessoas falam comigo sobre os textos, me cobram as postagens, perguntam qual o tema da semana, e alguns estão interagindo através dos comentários, sempre bastante pertinentes. E é para vocês, meus queridos e pacientes leitores, para quem vai o presente. Amanhã o blog vai apresentá-los uma surpresa e algumas mudanças editoriais. AGUARDEM!

Beijos e abraços para todos, e muito obrigada!

Gabriela Valente

sexta-feira, 16 de maio de 2008

POSTAGEM EXTRAORDINÁRIA:

Como todos sabem, posto apenas nas terças-feiras, mas recebi um comentário essa semana a respeito do primeiro texto meu aqui do blog, o que falava sobre o PAN. Como eu sei que nem todo mundo acessa os comentários, eu não poderia deixar de dividir esse texto incrível escrito por Laura Gallindo, minha amigona Laurinha! Ela inclusive vai ter seu espaço aqui no blog no próximo post (aguardem!). Quem tiver interesse pode acessar outros comentários aqui do blog e se deliciar com outros textos maravilhosos dela e de outras pessoas! Valeu pessoal, com vocês o So-letrando está caminhando sempre em frente!

"Comparado a um quadro renascentista, eu diria, foi o PAN, feito com um proposta superficialmente estética. Busca a perfeição das formas, feito mercenariamente para ser vendido para os 'reis' e ricos 'burgueses'. O Cristo do rio abre seus braços no morro, já o governo, abre braços, pernas e o que mais puder para trocar favores com a classe média brasileira. O pior: descaradamente, sem pudores. Mas para que ter pudores? se quem pode, tem senso crítico, não critica. O Brasil é rico sim, Gabi, rico de sem-vergonhice. E isso não está só nos fios-dentais de Ipanema. A gracinha é mais oficial. No país do carnaval palhaçada já virou ministério. E para os miseráveis que os morros escondem dos cartões-postais restou o cristo redentor. Este não desce de jeito nenhum, mora entre fogo cruzado. Pelo menos já virou uma das maravilhas do mundo..."

Laura.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Somos todos miseráveis - Por Gabriela Valente

A questão da miséria no Brasil está sendo tratada sem a profundidade que merece. Hoje, em cada sinal que paramos, somos abordados por lavadores de carro, malabaristas, crianças que brincam com fogo, e tudo isso por uma moedinha. Os meninos de rua não têm o menor espaço na sociedade, eles não têm visibilidade, expressão social. E uma das maneiras que eles encontram para aparecerem e serem vistos acaba sendo exatamente essa. Mas a elite que pára nesses sinais não se choca mais com esses meninos artistas, com esses meninos que imploram por dez centavos.

A situação nunca vai se resolver com essa elite que é e quer ser isenta do problema, que prefere continuar cega a se sentir cobrada e cutucada por um problema que também é dela. Alguns acabam dando esmola na esperança de uma salvação, essa que não vai vir nunca. Esses miseráveis nos forçam a uma reflexão que não queremos fazer ou que não estamos preparados. Mas apesar de ignorados, os miseráveis se recusam a desaparecer e ficam martelando cada vez mais nossa mente e servindo de vitrine a nossos olhos.

E o erro dos que tentam acabar com esse estado de pobreza é achar que ela se instala do lado de fora da nossa vida. Mas nós fazemos parte dela. O problema é pensar que assistencialismo resolve, mas a miséria tem sido tão ingrata com o PT que “se recusa a comer o Fome Zero” e acaba por também demonstrar a ineficiência do Bolsa Família. Muito pior que essa miséria que tem como verdadeira causa o sistema estrutural é a miséria na mente dos que têm tudo para melhorar a situação e não o fazem. E como disse Arnaldo Jabor em seu livro Pornô Política, “Hoje sabemos que não há nem futuro e nem chegada, só caminho”. Vamos em frente.

terça-feira, 6 de maio de 2008

O sentido anti-horário da vida - Por Gabriela Valente



Esse texto eu escrevi quando acabei de ler um livro chamado “O elogio ao ócio”, do filósofo inglês Bertrand Russell. Para mim ele tem as principais características de um grande pensador, dentre as quais ir além de seu tempo. E ele foi. Russell versou muito sobre o tempo, nosso tempo de trabalho e de lazer, e foi muito feliz nas considerações e nas previsões que fez sobre a nossa vida atual. Vamos lá!



Na sociedade como um todo, o trabalho é tido como um forte elemento para tornar o homem digno. Até exagerando, eu diria que o trabalho é o maior elemento para dignificar o homem. Um exemplo disso são aquelas pessoas que classificam outras que trabalham pouco de “vida boa”. E daí? Ninguém pode ter uma vida boa? Para sermos dignos temos que dar duro, suar o dia inteiro? Porém, o trabalho não é o principal objetivo da vida. Se fosse, as pessoas gostariam de trabalhar.


É incrível, desde que inventaram a frase dizendo que tempo é igual a dinheiro, as pessoas vivem pautadas no trabalho. O problema todo é que hoje, de tanto que se dedicam ao ofício, as pessoas acabam não tendo tempo para se divertirem, ou escolhem divertimentos passivos e monótonos por conta do cansaço. E como diz Russell, talvez se a situação não fosse essa, os indivíduos poderiam até usar o tempo livre em atividades de utilidade pública, e como não dependeriam dessas atividades para sua sobrevivência, não teriam a originalidade tolhida e nem a necessidade de se amoldarem aos padrões estabelecidos.


Outro ponto que gostaria de destacar é a tecnologia e o uso de máquinas. O computador, por exemplo, que veio para nos auxiliar, ao invés de reduzir nossas jornadas de trabalho, acabou aumentando. Todas as empresas vivem pautadas na produtividade, e se hoje com as máquinas podemos produzir o dobro no mesmo tempo, ninguém pensou em reduzir o tempo de trabalho pela metade e continuar produzindo a mesma quantidade que já era suficiente. Hoje, só se pensa em números, em mais e mais.


Olhem o sistema em que vivemos hoje: aos 3 anos já estamos na escola e aos 14 já começamos com a pressão do que vamos querer ser. Aos 17 escolhemos nossa profissão, aos 23 temos um diploma. Se continuarmos assim aos 60 já podemos nos aposentar. Com a expectativa de vida aumentando, temos mais 20 ou 30 anos pela frente. O que vamos fazer com esse tempo livre? Alguém sabe? Alguém foi preparado pra isso?


Deveríamos tentar mudar a nossa noção de tempo. Tanto o tempo que destinamos ao trabalho quanto ao lazer. É complicado, EU sei, mas estou tentando praticar o exercício do grande sociólogo italiano Domenico de Masi que defende o chamado “Ócio criativo”. Quem sabe em outro texto eu explico isso, pois agora vou me dedicar ao meu fazer nada... ZzzZZZ