quinta-feira, 5 de junho de 2008

A volta dos que não foram - Por Gabriela Valente


Hoje eu descobri porque muita gente não se interessa pelo cinema nacional (meu caso por certo tempo). É que aqui no Brasil, os filmes se preocupam com a realidade social do país, e não apenas em produzir filmes para a exportação. E isso choca, porque estamos todos acostumados ao bombardeamento vindo de Hollywood, com aquela fórmula pronta que todo mundo conhece (apesar de o maior produtor de filmes do mundo ser a Índia, mas não vou voltar ao assunto do meu texto anterior). Inegável que os americanos saem na frente quando o quesito é chamar atenção com as milionárias megaproduções.


Participei de uma palestra com o cineasta e diretor Paulo Caldas, ano passado, que disse que 78% da programação dos cinemas do país se dedica a filmes estrangeiros, enquanto que na TV esse número é ainda mais absurdo: 96%. Ele ainda disse que dos 50 filmes brasileiros produzidos por ano, em média, apenas 30 são exibidos nos cinemas. No meu ponto de vista, muito desses filmes não são o protótipo de vídeos reproduzidos nos multiplex. Aqueles da Globo Filmes até que ganham espaço e repercutem (Os Normais, A Grande Família, Casseta e Planeta), mas aí estamos falando da Rede Globo. Merchandising nas novelas, revistas de todo o país cobrindo os mega lançamentos cheios de globais, etc. Fica realmente difícil que as produções independentes prevaleçam. Mas vemos que existe sim uma curiosidade das pessoas pelos filmes autorais. Não é à toa que o Cine PE lota todos os dias do evento.


Pensando agora por alto consigo dizer o nome de excelentes cineastas do país: Caca Diegues, José Padilha, Guel Arraes, João Moreira Salles, Jorge Furtado. Dentre todos esses, eu admiro muito o cinema de Padilha. Mais do que o fenômeno nacional, Tropa de Elite, o filme Ônibus 174 foi um dos melhores que vi nos últimos tempos. Uma brilhante análise da realidade social do país tendo como base o famoso seqüestro de um ônibus no Rio de Janeiro. Também não posso deixar de destacar O Auto da Compadecida, adaptado de teatro para cinema por Guel Arraes. Se eu disser que é um clássico, estarei subestimando.


Enfim, o que quero dizer é que o cinema brasileiro significa muito mais do que qualquer outro cinema para nós. Ele é o mais antropológico, o mais político, é fonte infinita do que achamos de nós mesmos e da nossa história que estamos continuamente construindo. Como diz a frase: “um país sem cinema é como uma casa sem espelhos”. E por que não gostar de cinema brasileiro? São tantos argumentos e os mesmo já se parecem tanto que para o discurso sobram redundâncias.

6 comentários:

Anônimo disse...

Gabi, muuuuuito bom o texto!!! Parabéééns!!! Sempre leio o blog e vcs!!!

=***

Anônimo disse...

poxa!! pela primeira vez leio esse blog. E SÓ posso falar que é muito bommmmmm!!rsrs
Bons textos e boas escolhas de temas.
Gaby e Laurinha, parabéns acho que vocês estão no caminho certo, tem fururo!!!!

Anônimo disse...

Muito bom.
Adorei o texto.

Anônimo disse...

Complainzitaaaaa...

muito bom seu texto também. E essa história do cinema nacional precisa ser muito discutida!

Parabéns, minha crítica preferida!

AMO!

Anônimo disse...

Bom, eu diria que o que acontece hoje em dia no quesito cinema se resume no velho e bom ditado: "a comida do vizinho é sempre mais gostosa". Estamos tão acostumados a escutar, ler, copiar e supervalorizar os hábitos alheios que esquecemos de analisar as nossas grandes produções (pq não?) que não são de Hollywood mas foram feitas com intuito de retratar a "nua e crua realidade" , ou abordar temas interessantes que prendam nossa atenção, ou tb para nos livrar da rotina, do stress, da vida caótica e nos proporcionar gostosas gargalhadas!! Nós também temos um super potencial, como você mesmo mencionou o cine-pe está ai pra provar isso!
O que falta é divulgação, é mostrar ao público que estamos diante de obras incríveis que merecem respeito!
Beijo.

Anônimo disse...

É, ainda parece distante o dia em que o cinema - assim como outros campos da cultura, economia e política - vão se tornar ambientes mais democráticos, ou pelo menos livres da supremacia dos 'yankees'. Não que eles sejam de todo mal - justiça seja feita - inclusive eu sou fã confessa de metade dos seriados produzidos nos EUA, marcados por aquele humor sarcástico que ninguém imita. O problema é que assistir House e afins o tempo todo acaba criando uma blindagem inconsciente para outras formas de enxergar as coisas, o que é uma pena, porque não tem nada mais interessante do que explorar pontos de vista diferentes.
Mas com a onda de anti-americanismo - que tomou força principalmente a partir da mal-fadada investida no Oriente Médio capitaneada pelo célebre Bush Filho - alguns setores da sociedade contemporânea passaram a demonstrar certo preconceito contra tudo que cheire a 'enlatado americano', incluindo aí, naturalmente, os blockbusters made in Hollywood. É claro que esse sentimento já existia dentre as pessoas ‘mais entendidas’ – por assim dizer – de cinema e artes em geral, mas agora é o público não especializado que começa a associar os filmes americanos a uma série sucessiva de clichês e vazio de conteúdo.
Não é de se estranhar, portanto, a maior valorização que vem sendo dada a produções cinematográficas latinas, com destaque para os cineastas mexicanos, como Alejandro Gonzalez Iñarritu e Guilhermo del Toro.
Os conterrâneos do Uncle Sam, que de bestas não tem nada, rapidamente se ligaram na nova tendência, e já vêm cooptando talentos estrangeiros para emprestar um ar mais cult a suas produções. E com bons resultados, vale dizer, haja vista os números de bilheteria e críticas recebidas por filmes como Babel e 21 Gramas (ambos de Alejandro). Até Fernando Meirelles está entrando na dança, com o esperado ‘blindness’, que vem cheio de estrelas norte-americanas, como é de se esperar (mas também com Alice Braga e Gael Garcia, dois dos atores que vem faturando uns trocados a mais com a nova onda) .
Acho bom esse interesse por um cinema mais ‘globalizado’, e a maior receptividade dada a atores e produções estrangeiras (não só latinas, européias também)... de qualquer sorte, ainda não dá pra se iludir: o poder de ditar a cultura mundial continua na mãos dos Estados Unidos.