segunda-feira, 26 de maio de 2008

Diário do Holocausto - Por Laura Gallindo

Liguei, há algumas semanas, para uma grande amiga, Cacau de Paula, que está passando um tempo na Europa. Ela atendeu ao celular com uma voz sufocada: ‘não posso falar, estou no museu de Anne Frank, você sabe o que isso significa para mim. Tchau. Depois te ligo.’ O museu fica em Amsterdã, onde viveu, no Anexo Secreto, Anne Frank com seus pais, irmãos e uma outra família, também de judeus. Esse esconderijo foi um dos milhares que surgiram pela Europa durante o Holocausto, na II Guerra Mundial (1939–1945).


Anne Frank com treze anos foi testemunha de uma época em que mais se violou os Direitos Humanos, tempo de absoluta depuração. Homens escondendo-se dos próprios homens. Medo. Campos de Concentração. Nossa geração é vinda de horrores que a história não nega. A democracia, a globalização e a liberdade a qual vivemos hoje, há algumas décadas, era utopia para os flagelados das ditaduras que varreram o mundo. Muito do que aconteceu nas Câmaras de Gás ainda se desconhece, porque corpos mutilados não têm força para contar os seus segredos.


Mas é sempre tempo de lutar contra o esquecimento, sintoma da voraz modernidade. É sempre tempo de nos impressionarmos com a vida frágil que nos pertence, tão frágil quanto o limite entre a loucura e a sanidade da mente humana. ‘O homem, que, nesta terra miserável, mora, entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera’, já dizia Augusto dos Anjos em uma de suas pessimistas autópsias da alma.


A maldade é um remédio maldito, um vício que alimenta a dor de um mundo carente de amor. Costuma-se abominar a existência do líder nazista. Não foi só um homem megalomaníaco, Hitler, quem matou milhares de judeus. Eu abomino também aqueles que morreram fardados, fora de corredores escuros, esconderijos ou salas asfixiantes, sem nada fazer.


Cacau,é a eterna mágoa que carregamos que te deixou suspensa. Sei sim o que significa para você ter imergido tão profundamente no Diário de Anne Frank, na história que nos rouba por uns segundos toda a esperança. Deixei-te com teu silêncio, amiga. E comungo dele como todos o deviam fazer. Porque é a fraternidade que mantém nossa humanidade e nos afasta da sombra que perscruta a difícil arte de conviver.


Do holocausto fica a lição de uma época em que o homem despiu-se de todas as suas fraquezas e tornou-se outrém que não homem. Hoje, é tempo de ouvir os ruídos de uma humanidade já caduca e refletir que a grandeza de um homem jaz não na grandiosidade de seus feitos mas no auto-conhecimento dos seus limites.

8 comentários:

Anônimo disse...

ndo li o próprio Diário de Anne Frank me senti parte desse horror do holocausto. mas todos ´nós somos responsáveis de algumas forma, nem que seja para não deixar cair no esquecimento. Laura, parabéns pelo texto e pela sua forma única de conseguir expressar em palavras algo tão surreal. gostaria de saber se posso ter seu msn para trocarmos umas idéias.

Anônimo disse...

Laurinhaaa!!! que estréia!! bem tua cara eses textos profundos. É tão bom ler o que a gente sente quando pensa nesses horrores mas é incapaz de expressar. É bom ter alguém que escreva assim para que possamos registrar para posteridade nossa indignação.
parabéns a gabi que não conheço ainda mas que escreve muito bem tb!!
bjos

Anônimo disse...

Só tenho algo a dizer: o que vc chamou de megalomaníaco na verdade é o maior gênio de todos os tempos. na verdade todos tem é inveja. Ele nos fez um serviço em matar tanto angue impuro.
Laura, vc escreve muito bem, mas cuidado com o conteúdo porque os neo-nazistas já estão te rastreando.

Anônimo disse...

oh amiga, pois eh vc ligou numa hora critica mas conseguiu entender meu sentimento, por ter uma sensibilidade tao caracteristica sua! vc jah me entendeu soh escutando minha voz, quando vc for lah, vc vai sentir o que eu senti. eu ainda nao consigo explicar.eh como vc falou, fico em silencio. incrivel como um homem usando soh palavras conseguiu ter a dimensao que hitler teve, use para o bem suas palavras amiga! auhauhah vc tbm tem um poder incrivel c elas! bjooos saudosos

Anônimo disse...

Usar Augusto dos Anjos é covardia, Laurinha! sabe como eu gosto, minha linda.
adorei o blog, mas acho q vc tem q fazer um com seus contos.

Anônimo disse...

LINDA, INTELIGENTE!!! N FICA METIDA N TAH, PRIMA?? ALIÁS, ISSO EH UM PEDIDO IMPOSSÍVEL P TU! HAHAH. TEXT PERFEITO.

PS: ADOREI O CONTO Q TAVA NO COMENTÁRIO TB.

BJOS.

Anônimo disse...

Laura, eu sou da sala de Gabi (e acho que vc se lembra de mim). Adorei o teu texto, fico impressionada como suas palavras conseguem chamar tanto a nossa atenção e nos fazer refletir sobre esse mistério que é a vida e a mente humana!
Vc escreve muito bem, continue assim, que voce vai longe! Parabens!
Beijooo =**

Unknown disse...

Prima, parabéns, o texto está bem escrito, todavia permito-me enviar o seguinte comentário:
"A democracia, a globalização e a liberdade a qual vivemos hoje", será que é assim mesmo? não! basta olharmos ao nosso redor para percebermos o quão injusto ainda é o mundo. O sistema é opressor e desumano. A realidade da guerra ainda existe, mascarada pela utopia da democracia, que acreditamos existir. Além disso, a globalização minimiza o humano, privilegiando o mercado e estimulando o consumo!