sexta-feira, 20 de junho de 2008

Every time Chico says goodbye - Por Laura Gallindo


Chico Buarque não é o queridinho do Brasil por tantas gerações à toa. Ele é o sincretismo da vivacidade e das mazelas do povo transformadas em uma boemia gostosa de se ouvir. Seu olhar é de uma anilina clara que percorre a história do país cantando o seu cotidiano. O nosso Chico, várias vezes campeão de futebol de botão e, já aos oito, criador de marchinhas de Carnaval, foi o mesmo que se esgueirou pela mão de ferro do ditador Médici com a sua própria filha a tiracolo na lira de sua composição ‘‘Indisponível’’:

‘‘Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta’’

A mesma irreverência com que mestre Buarque disfarçado com nome de ''super-herói'', Jorge Maravilha, para burlar a censura, tratou a ditadura militar, ele usou para entender as crianças que ‘‘ensaiavam o rock para as matinês’’. Mas para Chico ''era fatal que o faz-de-conta terminasse assim'' e logo seu lirismo desvairava-se a perguntar ‘‘O que é que a vida vai fazer de mim? ’’ Essa e tantas outras perguntas ficaram no ar. Ele nunca entrava no tom piegas da lamentação respondida. Estava era ocupado puxando o enredo da Mangueira. Porque Chico é Brasil, cabreiro, poeta, múltiplo, mudo, único.

Felipe Haeckel, um amigo e fã de Chico Buarque, me suscitou esse texto quando falou que a música que Chico diz, em um documentário, ser a sua preferida: ‘‘Everytime We Say Googbye’’ de Cole Porter (http://www.youtube.com/watch?v=9GdwZL2Bx8c), não se compara às músicas dele próprio que também falam de despedida. Porque quando é o tom romântico que seu Chico traja, não há quem resista aos versos gentis de ''Futuros Amantes''...

‘‘Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar’’
Veja no vídeo ele contando como compos essa música.

É a compreensão que Chico faz do homem que o coloca como líder de uma geração que reluta em falar de amor. E, ainda nas palavras de Felipe Haeckel, a despedida para Chico se eterniza no reencontro cantado de ''ex-futuros amantes'', como em ‘‘Todo Sentimento’’:

‘‘Depois de te perder
te encontro com certeza
talvez num tempo da delicadeza
onde não diremos nada
nada aconteceu
apenas seguirei como encantado ao lado teu"

Quando se ouve Chico Buarque de Hollanda a vontade que se tem é de fazer samba e amor até mais tarde, a palavra cala e o caos da vida fica mole como um acorde de samba sem pressa, como a menina e o rapaz que se reconhecem em uma canção do tipo ''Samba e Amor''...

''Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã''
Nessa brincadeira de colocar trechos das músicas, só acabaria esse texto quando tantos outros fossem citados. Mas como isso é um blog e não um guia de Chico Buarque de Hollanda (não é má idéia. Já tenho até sócio, não é Felipe?) conterei meu entusiamo. Só não suportaria acabar sem citar minha música preferida, que incansavelmente escuto e perco a noção da hora, como bem sabe Chico, ‘‘Eu Te Amo’’:

‘‘Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir’’
''Eu Te Amo'' - Chico Buarque, Tom Jobim e Telma Costa

Pois é, meus caros, por essas e outras que every time chico says good bye... i die a little.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

TeVê - Por Gabriela Valente

Hoje resolvi dissertar sobre a TV. Iria render muito, se eu quisesse abordar o poder social que ela representa, lembrando que ela está presente em 98% dos lares brasileiros e que no mundo existe uma telinha para cada cinco habitantes. Mas estou aqui para falar brevemente sobre o próprio meio, depois que ouvi a frase do sábio McLuhan que disse o seguinte: “o meio é a mensagem”. O que ele quis dizer com isso?

Quem nunca se viu diante da TV completamente estático, fora do mundo? Acontece até de alguém falar com a gente e nós não nos apercebermos, e isso não acontece com nenhum outro meio (talvez com a internet). Quem nunca chegou em casa e ligou a TV só pra não se sentir só? Pois é, a Tv ao mesmo tempo em que nos faz companhia, ela nos hipnotiza, e como o Spielberg tratou em seu filme Poltergeist, a metáfora que a TV engolia a criança, nós de fato entramos de cabeça nesse meio.


Com isso, conclui-se que assistimos ao meio e não propriamente ao conteúdo. De acordo com o meio, a mensagem adquire sentidos diferentes, ainda que estejamos falando do mesmo assunto. Hoje, vive-se um grande “boom” de mídias: TV, rádio, jornal impresso, internet, cinema, etc. E mais, essas mídias todas agora entram em processo de convergência. E o que preocupa no que se refere à TV é que olhamos para ela muito de fora, escutamos distraidamente, deslizamos sobre as imagens, saltamos de canal e canal, e com isso não vemos o que passa na TV, mas na verdade o que fazemos é pura e simplesmente ver TV.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

A volta dos que não foram - Por Gabriela Valente


Hoje eu descobri porque muita gente não se interessa pelo cinema nacional (meu caso por certo tempo). É que aqui no Brasil, os filmes se preocupam com a realidade social do país, e não apenas em produzir filmes para a exportação. E isso choca, porque estamos todos acostumados ao bombardeamento vindo de Hollywood, com aquela fórmula pronta que todo mundo conhece (apesar de o maior produtor de filmes do mundo ser a Índia, mas não vou voltar ao assunto do meu texto anterior). Inegável que os americanos saem na frente quando o quesito é chamar atenção com as milionárias megaproduções.


Participei de uma palestra com o cineasta e diretor Paulo Caldas, ano passado, que disse que 78% da programação dos cinemas do país se dedica a filmes estrangeiros, enquanto que na TV esse número é ainda mais absurdo: 96%. Ele ainda disse que dos 50 filmes brasileiros produzidos por ano, em média, apenas 30 são exibidos nos cinemas. No meu ponto de vista, muito desses filmes não são o protótipo de vídeos reproduzidos nos multiplex. Aqueles da Globo Filmes até que ganham espaço e repercutem (Os Normais, A Grande Família, Casseta e Planeta), mas aí estamos falando da Rede Globo. Merchandising nas novelas, revistas de todo o país cobrindo os mega lançamentos cheios de globais, etc. Fica realmente difícil que as produções independentes prevaleçam. Mas vemos que existe sim uma curiosidade das pessoas pelos filmes autorais. Não é à toa que o Cine PE lota todos os dias do evento.


Pensando agora por alto consigo dizer o nome de excelentes cineastas do país: Caca Diegues, José Padilha, Guel Arraes, João Moreira Salles, Jorge Furtado. Dentre todos esses, eu admiro muito o cinema de Padilha. Mais do que o fenômeno nacional, Tropa de Elite, o filme Ônibus 174 foi um dos melhores que vi nos últimos tempos. Uma brilhante análise da realidade social do país tendo como base o famoso seqüestro de um ônibus no Rio de Janeiro. Também não posso deixar de destacar O Auto da Compadecida, adaptado de teatro para cinema por Guel Arraes. Se eu disser que é um clássico, estarei subestimando.


Enfim, o que quero dizer é que o cinema brasileiro significa muito mais do que qualquer outro cinema para nós. Ele é o mais antropológico, o mais político, é fonte infinita do que achamos de nós mesmos e da nossa história que estamos continuamente construindo. Como diz a frase: “um país sem cinema é como uma casa sem espelhos”. E por que não gostar de cinema brasileiro? São tantos argumentos e os mesmo já se parecem tanto que para o discurso sobram redundâncias.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Português X Politiquês - Por Laura Gallindo

Em uma coletiva de imprensa uma jornalista perguntou a um pré-candidato a prefeito o que ele iria fazer caso fosse eleito. A resposta ressoou nos bastidores de um estúdio onde um outro pré-candidato repassava o texto para gravar um comercial. Não muito diferentes são os discursos arquivados em décadas de eleições e campanhas políticas. O português ganhou um novo dialeto falado exclusivamente pelos ‘‘Tupiniquins do Planalto’’.


Palanques ouvem incessantemente as inúmeras possibilidades sinonímias da língua portuguesa. Sai o ‘‘Pernambuco segue em frente’’ e entra o ‘‘Avança Pernambuco’’ que logo é substituído pelo ‘‘É tempo de mudança’. Os ouvidos atentos do povo procuram as sutilezas que diferenciam as propostas desses adversários-irmãos. O que mais lhe interessa? Um parece que vai desenvolver o estado através da educação para todos, outro através da melhoria do serviço de saúde pública e mais um que diz acabar com a violência no estado.


Não faltam promessas tentadoras que brincam com o imaginário popular. Os políticos lidam com o que de mais perene há em um homem: a esperança. Esta é renovada a cada dois anos com o recomeço de mais um período eleitoral e de promessas vindas de uma linguagem redonda, rebuscada e vazia. É fácil um analfabeto perder-se nesse politiquês desvairado que invade as ruas descalças de seu bairro profetando urbanização.


O que o senhor acha da violência? E José escuta: ‘‘Números exorbitantes. É preciso salientar a importância de estar revitalizando a força humana que gerencia o controle à violência. Estarei priorizando essa questão no decorrer do meu mandato.’’ Fico me perguntando se ele não poderia ter usado menos gerúndio. Talvez José tenha esboçado uma cara de aparvalhado que foi logo clicada pela assessoria do candidato. A legenda da foto será: ‘‘eleitor se impressiona com a proposta de combate a violência’’. José realmente impressionara-se. Após tão bela ordenação de palavras ele ainda não tinha chegado à conclusão sobre o que iria ser feito para reduzir os homicídios dos quais muitos de seus amigos já foram vítimas.


No Brasil dos contrastes o que falta a muitos dos nossos governantes e políticos é a desintoxicação de uma linguagem viciada em pompismos. O discurso não pode ter cara de gravata ou sorriso alinhado. Fala oca não mata fome nem educa o povo. Já está na hora dos nossos representantes ‘’descerem do planalto’’ e encararem a gramática da realidade brasileira.